terça-feira, 9 de agosto de 2016

Um início inesquecível

Você se entrega
se joga na dor
Se entrega ao prazer de se torturar
Sim, já se transformou em prazer há tempos
Sempre gostou de estar no lado escuro
Não que a felicidade seja ruim
É bom sentir ela passando pelo seu corpo
Aquela sensação inebriante
Como o ápice do prazer
Mesmo assim gosta de se render ao mistério
Quer se desvendar
passando por um processo doloroso
Que no final resulta em êxtase
se não temer e se dispor a ser 
intenso além de seus limites
Se desligar por um momento...
Quando estiver nas profundezas
da alma
tudo então se intensifica
e virá a paz
e o caos novamente
em uma deliciosa e torturante sintonia


                                                 Angèlique B.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Menos cor





















"Saí da loja com os anéis negros

Tão encantadores
Há tempos não sorria tanto escolhendo
objetos...
Descobrira coisas interessantes naquela cidade
Novos cheiros
Novos sabores
E andando pelas ruas
Vi um arco íris entre
as nuvens
Sem qualquer sinal de chuva
E com a câmera, tentando registrá-lo
Percebi que as cores sumiam tão rapidamente...
Não daria tempo
Fiquei parada ao final da rua 
sem reação olhando o céu...
De volta percebo que estava em frente
à uma casa
Portões abertos
E um rapaz estava a observar
Onde se perdia aquele olhar
perplexo
Veio até a mim e perguntou algo
Que não consigo me lembrar
pois minha mente estava 
tão longe dali
Disse a ele que estava tudo bem
Mais perguntas, quanto interesse
repentino por uma estranha..."

Quantas semelhanças com a vida
quando vemos as cores de algo se perdendo
sem nada poder fazer
E sempre alguém pergunta se está tudo bem
Na maioria das vezes sem interesse na resposta
Daí dizemos que sim
E no fundo o que queremos é sair correndo dali
Em busca de mais cores
De mais amor
No lugar em que nos sentimos mais
inteiros


                                                               Angèlique B.

domingo, 22 de maio de 2016

Um verso

















Ser...
Uni verse
O ser é humano
E talvez a beleza do caos
seja quando ele consegue ser
mais que isso, ser parte de algo
Não apenas estar lá

Em meio ao mar

é cavalo marinho
sereia
ou qualquer criatura que
seu sentido buscar
Sente a vida que a água traz

Estar no mato...

pode ser o lobo
que corre sentindo 
cada cheiro
ou águia buscando cada
movimento
sente a essência da mãe
natureza
e os mistérios da floresta,
e está tranquilo


Pode ser árvore quando quiser

sem perder sua liberdade
não está preso à terra por
mais que um momento
suas raízes sentem a vida
e energias ali presentes
e delas se alimenta

Quando vai encontrar o rio

terra úmida e pés descalços
se guia pelo som da água caindo
a cachoeira chama
é fonte de purificação,
deixa-se fluir na água

Volta à floresta 

deixa que as folhas secas
voem com o vento
nova primavera chega
e com ela borboletas 
e beija flores

Em qualquer melodia

que deixa se levar
A alma se torna a música
em toda sua beleza
o corpo traduz o sentimento em
dança
Ou os olhos mostram que tudo
aconteceu sem qualquer movimento

As noites

de lua cheia
com seu brilho magnífico que faz
se tornar ser encantado e encantador,

de estrelas 

onde se deita na grama e se
perde entre as constelações
os olhos têm a imensidão
do universo 
e o coração
tem o calor dos meteoros 

sentir toda a essência dos lugares

de onde passa
alimenta a força que não sabe ter
resgata a lembrança de que...
o que quiseres pode ser
deixa sem sentido tudo que é
pela metade
sorrisos contidos, olhares fugazes
se perdem no caminho

Conhece então a serenidade

de ser inteiro e sentir tudo
tão próximo
apenas se deixa ser verso
ser mais um tom que compõe
uma pintura
sente a resposta do universo
à seus pensamentos


                                   Angèlique B.







quinta-feira, 14 de abril de 2016

Chuva de verão


























Ponte de pedra, tão magnífica em sua simplicidade
Abrigava flores, musgos e alguns cogumelos
Nela se encontravam energias singulares

Talvez nas travessias sejam deixadas 
mais coisas que se possa ver...

Para chegar até ela
flores, lagos
patos brancos e negros
Chuva e vida escorrendo pelos galhos secos

Tudo o que pesava no caminho de ida
aos poucos se dissolvia
com aquelas gotas de água doce e fria

Fechar os olhos e respirar profundo
era parte do necessário para inundar a alma 
do que à ela faltava

Outro fechar de olhos
viagens pelo próprio universo
Tão parecido com um quarto escuro 
onde por vezes deixamos que
toda a força que é preciso se perca

Quanta falta de amor por si mesmo
Ao deixar que isso aconteça

Mas estar na ponte faz parte do resgate...

Logo à frente, o rio vermelho
com um poço ao centro e um fim a perder de vista
Analogia aos abismos em nossos caminhos
Que podem ser contornados
Por um olhar mais atento
E um redirecionar do passo

Silêncio na mente
para observar e registrar
Não só as belezas do que há em volta,
Mas para buscar as próprias
ao olhar para o seu interior

Buscar sempre...
a leveza de um dia de chuva 
e a renovação de um banho de cachoeira

                                                                        Angèlique B.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Histórias não vividas


























Em um sonho um "até logo" foi dito

sem palavras
Não era possível saber quando poderia
ver aquele olhar
Ou ouvir aquela voz
Que só de ser lembrada já fazia um sorriso surgir

Nos olhos dele eu podia ver...

Eram apenas lembranças que
deixavam um querer
De ter percorrido mais devagar aquele caminho
Enquanto havia folhas para escrever
Enquanto havia alguém
Que estava ali a caminhar junto 
mesmo tendo vários caminhos a serem escolhidos

Se pudesse acalmar o passo

Sentiria o perfume das flores que ali estavam
Apreciaria suas cores
Pegaria as pedras em que poderia tropeçar
E colocaria ao lado daquelas plantas
Ali elas ficariam bem mais bonitas

O vento eu poderia sentir em minha face

Me divertiria com ele a bagunçar os meus cabelos
Sentiria o calor do sol e tomaria banho de luar
Apenas abraçaria...
Envolveria no melhor que havia dentro de mim

Agora são apenas histórias não vividas

Perdidas na mente dos apressados
Que provavelmente só irão percebê-las
Quando tiverem que dizer "até logo"
e aqueles olhares tão preciosos
não puderem mais ver




Angèlique B.


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Janelas da alma




Há um homem ali
Assistindo pela janela histórias que não vive
Ele ás vezes sequer sabe o porquê
De apenas ver

Não sabe se é o medo
Ou se é tomado pelo pensamento
de que terá mais tempo
Talvez um pouco de cada doce ilusão que criou

Ele vê o brilho
Atrás de sua máscara
Mas não a tira por não ter certeza do que acontecerá
depois que suas construções tortas se desmoronarem

Há uma cortina escura na janela 
Que não o permite sentir quanta luz há lá fora
Essa luz é capaz de iluminar toda uma existência
Daquele que se despe
E apenas se veste do sentimento mais puro que existe

Angèlique B.





quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Brilho nos olhos








Sob esse imenso céu estrelado, ainda sem lua
Ao som do mar e criaturas da noite
Uma vela na areia ilumina esse papel, onde 
há uma palavra principal a ser registrada:
Gratidão

Nesse momento por um dos presentes
O espetáculo da natureza
Que acontece todos os dias
Mas passa despercebido pelos olhos de muitos,
que estão perdidos mergulhados nos problemas
Esquecendo que através deles é possível construir uma torre de sabedoria

Ser grato precede uma imensa sensação de paz
Estar em paz abre espaço para a felicidade

Já seria o suficiente para uma bela noite
Mas algo atrai atenção no céu
Um pequeno grupo de estrelas 
brilha de forma diferente das outras
Ora com mais intensidade, ora com menos
E em um ritmo que parece sincronizado, como se uma música conduzisse aquela dança
É possível ver, e não é preciso ouvir
Apenas apreciar

Que surpresa incrível constatar que se trata 
da mesma constelação registrada há dias atrás
em uma pintura
Antes da procura pelo seu formato
desenhando no céu
Ela chamou toda atenção para si
Era preciso vê-la

Agora a vela começa a se apagar
No momento em que a dama da noite 
inebriará com sua luz
Começam a surgir no horizonte feixes de 
uma luz alaranjada
A lua cheia está chegando

Angèlique B.